Vislumbres da Linha II - Fernanda Branchelli

Abertura: 10 de setembro de 2008, às 19h.
Visitação: 10 a 24 de setembro de 2008.
De terça à sábado, das 14 às 18 hs.
“Desenhar é várias coisas.
É lançar a linha no espaço, anarquicamente, mas com aquela ordem interna que só quem faz sabe.
É estabelecer um continente, que aparentemente não contém nada, mas onde pode caber tudo (e onde cabe o vazio que é nada e tudo ao mesmo tempo).
É criar relações entre coisas, dando pesos e valores.
É falar de objetos e fazê-los falar.
E finalmente é lançar um olhar para a realidade, procurando e achando significados”.
Ester Grinspum
Os desenhos de Fernanda Branchelli têm uma pitada de tudo que se leu no belo texto de Ester Grinspum ( 2007,p.107). A artista lança suas linhas no espaço do papel sem ter uma pré-concepção do resultado final do trabalho. A sensualidade de uma linha mais curva acaba delineando corpos femininos ou de animais. As formas são traçadas com liberdade, a linha alcança autonomia indo e vindo, traçando curvas e retas. O nanquim, as folhas de ouro e prata e caneta gel preenchem os espaços onde as linhas se cruzam. Surgem as texturas sobre o plano e as cores que envolvem um espaço determinado; criam-se relações que justificam o todo, à medida que Fernanda constrói as linhas. Do puro movimento poético nascem ligações sutis que sugerem o vislumbre de um ser reconhecível.
Da escultura veio o desejo de trazer a aparência tridimensional ao desenho, agregando a colagem em seu processo criativo. Os seus desenhos passam a ter diferentes planos indicando uma possibilidade na criação de volumes, além do movimento para o qual o olhar é instigado a seguir. As zonas mais densas e coloridas ou as que formam grandes contrastes entre o preto e o branco encarregam-se de conduzir o caminho a ser percorrido dentro do espaço da representação.
A artista elabora seus desenhos com uma técnica refinada: alguns são ricamente trabalhados com diversos materiais, outros de maneira mais econômica com nanquim sobre papel, todos inscritos com a mesma desenvoltura, donos de magia própria que nos encantam, ao mesmo tempo em que nos incitam a buscar dentro das formas o reconhecimento da figura. Ela existe, pode estar nos vãos, mostrando-se pouco a pouco, como uma armadilha pronta a nos capturar.
As sutilezas, a beleza e o rigor na construção técnico-formal concebem um conjunto fascinante para o nosso deleite e para a afirmação do desenho como uma linguagem independente que, cada vez mais, se expande e toma seu lugar definitivo na arte contemporânea, agregando adeptos e admiradores.
Ana Zavadil - Curadora
REFERÊNCIAS:
GRINSPUM, Ester. Do desenho. In: DERDYK, Edith (org). Disegno.Desenho.Desígnio. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2007, p. 99-108.

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