N Partes - Coletiva


No dia 1 de julho abre a exposição N partes, com trabalhos desenvolvidos pelos alunos da disciplina de Modelagem em Gesso do Instituto de Artes da UFRGS. A mostra contará com os trabalhos de nove jovens artistas e propõe um momento de reflexão e socialização de sua produção durante o curso da disciplina no primeiro semestre desse ano.


Abertura: 1 de julho, terça-feira
das 19 às 21h30
Visitação: de 02 a 30 de julho
de terça a domingo, das 14h às 18h

Galeria de mArte
Osvaldo Aranha, 522 sobreloja
Bom Fim - Porto Alegre
http://galeriademarte.blogspot.com
galeriademarte@uol.com.br

Desenhos em doses mínimas; pinturas em doses duplas - Flávio Morsch

A obra de Flávio Morsch é poesia feita de cores, de gestos e de linhas. O resultado indica um exercício de paciência e rigor técnico-formal onde a mão que seduz a matéria é a mesma que a leva por caminhos feitos de liberdade na criação. Desenhos em doses mínimas e pinturas em doses duplas são trabalhos que guardam especificidades próprias de cada linguagem, contudo proporcionam uma relação visual de jogo e de troca marcados pela presença de uma unidade formal que rege todo o conjunto: a pintura através de suas cores vibrantes dilui-se nos desenhos que provocam o fruidor por meio do imaginário do artista. O desenho, por sua vez, transmuta-se trazendo o silêncio às suas formas e texturas ao desmanchá-los em gradações de cores. A zona de passagem entre uma linguagem e outra é ato reflexivo que produz uma estrutura rigorosamente construída que nos fala da sensibilidade do artista e de suas escolhas existenciais e filosóficas.
Os desenhos são elaborados pelo domínio absoluto da técnica e da diversidade dos materiais utilizados, além das cores intensas de guaches, aquarelas, óleos e acrílicas, colagens de papéis japoneses e tailandeses, tecidos e papéis fotográficos, xilogravuras de padrões orientais, papéis tingidos com tinta a óleo pelo próprio artista e são geradores de novos padrões coloridos e ainda: o nanquim, o grafite e o lápis de cor, como ingredientes formadores deste universo gráfico. A sua poética revela requinte e enigma para a retina pois os personagens capturados do mundo animal tornam-se figuras imprevistas e se inscrevem num contexto em que os deixa a vontade num universo de firmeza e exatidão.
As pinturas refletem uma temática da cor. A cor, em exercício da própria cor, resplandecendo através da luz e das transparências. O tratamento dado à superfície é criado em faixas coloridas que traçam um percurso de alto a baixo, delimitadas por linhas previamente desenhadas. A tinta escorre por estas linhas em várias camadas, porém não cria texturas por seu uso ser diluído. As linhas justapostas, de modo a deixar o centro do trabalho com uma luminosidade maior e as bordas mais frias causam uma progressão do espaço dentro da pintura. A riqueza desta construção geométrica, com esta luz refletida transforma a pintura num holograma.
As obras formam um conjunto harmônico onde os desenhos significam anotações e são realizados de maneira metódica sobre o vazio do papel, enquanto que as pinturas remetem ao espaço puro; fruto de incessantes pesquisas em relação ao uso das cores e a uma disciplina de trabalho diário que o artista se impõe no processo criativo.
O amor à arte e o prazer do fazer artístico nos são revelados por Flávio Morsch através de sua estética refinada. A escolha de seu caminho é marcada pela relação indissociável entre arte e vida e a dualidade entre o espírito do cientista contrapondo com o espírito do poeta, oferece para a nossa contemplação uma arte de indizível beleza.

Ana Zavadil – curadora